Anúncios políticos em redes sociais: a hipocrisia do Twitter
O CEO do Twitter, Jack Dorsey, anunciou no dia 30 de outubro que a plataforma deixará de aceitar anúncios políticos a partir do fim de novembro. Significa que nenhum político do planeta poderá pagar para impulsionar o seu conteúdo e divulgar as suas ideias na rede social.
Pouquíssimos políticos no Brasil utilizam anúncios no Twitter para divulgar suas ideias. Nenhum dos mais influentes impulsiona conteúdo com frequência. Portanto, ao menos em nosso país, é uma medida inócua. O problema é a mensagem que ela passa.
Antes de mais nada, a proibição dos anúncios políticos representa um cerceamento da atividade política e fortalece a mensagem de que é errado um político ou partido pagar para divulgar e difundir suas ideias. Não é.
O Twitter busca se antecipar a prováveis críticas de interferência eleitoral, como ocorreu em 2016. A medida foca na tumultuada eleição de 2020 nos Estados Unidos, quando Donald Trump tentará a reeleição.
A primeira vitória de Trump gerou um grande debate nos Estados Unidos sobre a passividade das redes sociais, em especial do Facebook e Twitter, com a distribuição de Fake News e o vazamento de dados de usuários. Cenário que se repetiu no Brexit e em outras eleições ao redor do mundo, inclusive no Brasil.
Ao proibir os anúncios, o Twitter tenta se contrapor ao Facebook, que já anunciou que os anúncios políticos estão mantidos na plataforma.
A questão é: o problema não é e nunca foi a propaganda política. Nem no Twitter, nem no Facebook e nem em nenhuma outra rede social.
Anúncio político
“Acreditamos que o alcance da mensagem política deve ser conquistado, não comprado”, afirmou Jack Dorsey em sua conta na plataforma.
O discurso é uma grande bobagem e mostra que o Twitter não está interessado em atacar o real problema: as milhares (milhões?) de contas falsas e bots que diariamente tentam manipular o debate público e levantar TAGs e assuntos de interesse de grupos econômicos e políticos.
O próprio CEO da rede do passarinho afirmou que uma mensagem política ganha alcance quando as pessoas seguem uma conta e/ou retuitam o conteúdo. Essa é a lógica da plataforma.
Para isso não é necessário realizar um anúncio. Você precisa de um discurso inflamado, muitas vezes virulento, e de uma base de seguidores e militantes, reais ou não.
Polarização e fake news
Os algorítimos das redes sociais, inclusive do Twitter, privilegiam os discursos extremos, que ganham maior reverberação pelo apoio de quem concorda ou pela repulsa de quem discorda. Essa lógica incentiva a polarização política. Além disso, conteúdos absurdos, quase sempre falsos, também reverberam com mais facilidade.
A engrenagem se completa com exércitos de militantes organizados, perfis falsos e robôs.
Perfis falsos e bots
Sem dados oficiais mas sem medo de errar, garanto que o Twitter é de longe a rede social com o maior número de perfis fake e bots.
As exigências para o cadastramento de um novo perfil na rede são muito mais brandas do que para você criar uma conta no Facebook, Instagram, e-mail, LinkedIn e até para fazer um comentário no site de um grande jornal.
Combater essas redes de perfis falsos, que muitas vezes atuam como tsunamis organizados para defender interesses espúrios, deveria ser o grande objetivo do CEO do Twitter.
Medidas nesta direção afetariam o número de usuários ativos na plataforma, o alcance das publicações e certamente resultariam na desvalorização dos ativos do Twitter e da rede social como um todo.
Portanto, melhor apontar os anúncios políticos como o grande problema. Afinal, eles são uma fonte de renda menor do que o alcance gerado pela atuação dos perfis falsos e bots.
Quer saber mais sobre como utilizar o Twitter na comunicação política? Publiquei este texto recentemente aqui no Marketing Político Hoje. Você também pode ler outros artigos de minha autoria aqui.
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