As narrativas da Crise da Vacina

A Operação deflagrada pela PF abriu uma guerra de narrativas entre governo e oposição.

A investigação mostra que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro tenente-coronel Mauro Sid montou no Palácio do Planalto um esquema para fraudar cartões de vacinação e incluir informações falsas no ConecteSUS. É crime.

Entre os cartões fraudados estavam o de Bolsonaro e sua filha, além do próprio Sid e sua esposa. A investigação apura se Bolsonaro foi o mandante da fraude.

Além da questão legal, existem as narrativas criadas, e ambos os lados conseguiram capitalizar sobre o tema.

A acusação, vista pelo entorno do ex-presidente como de menor potencial, foi terra fértil para reforçar a narrativa da perseguição política. Não faltaram apoiadores de Bolsonaro dizendo que a PF é comunista.

Bolsonaristas tentaram, com relativo sucesso, mudar o foco da questão para “A esquerda persegue Bolsonaro e a direita”. Para reforçar, o ex-presidente embargou a voz em uma entrevista e soltou o chavão: “Mexer comigo tudo bem, mas com a minha família…”. É batido, mas cola.

Para esse público, cerca de 20% do eleitorado, acusação alguma tem efeito. Segue tudo como estava.

Os governistas conseguiram uma expressiva vantagem nas redes sociais neste tema, como não se via a muito tempo. Segundo monitoramento da Quaest, 81% das menções sobre o caso foram negativas para Jair Bolsonaro.

O Governo ensaiou algumas gracinhas para animar a base, como o post de bom dia do presidente e um post do Governo Federal falando sobre vacinas em viagens internacionais.

Governistas destacaram as acusações que Bolsonaro, família e aliados enfrentam e reforçaram a imagem de que Bolsonaro cometeu crimes em série. O discurso cai como uma luva para a esquerda e os apoiadores do presidente Lula.

Fora das bolhas, a imagem de Bolsonaro sofreu um desgaste considerável, inclusive com alcance internacional, com matérias nos EUA e outros países.

O eleitor médio, mesmo o que votou em Bolsonaro, não compra a ideia de que a Polícia Federal seja “comunista” ou de esquerda, ainda que considere um certo exagero na conduta.

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